Bom dia prezados seguidores,
Li esta matéria no Estadão e achei interessante compartilhar com todos vocês. Tenho me deparado com o perfil de atletas que querem cada vez mais, mesmo sabendo dos riscos. Sendo assim, este texto pode trazer informações adicionais sobre o treinamento esportivo e vida saudável. Boa leitura a todos!
Texto de Ricardo Guerra - colaborador do Estadão
A participação em esportes de ultra-resistência como a maratona, o triátlon e Ironman
tem aumentado nos últimos anos de maneira significativa. Muitos dos
atletas participantes nestes tipos de competições aderem a regimes e
protocolos intensos de treinamento visando obter uma preparação adequada
para o dia da prova. Alguns até chegam a viajar para o outro lado do
mundo, com o objetivo de competir em diferentes eventos. E para muitos
destes atletas, a preparação árdua e dedicada se torna uma prioridade às
vezes, até em detrimento da vida familiar que pode ser sacrificada por
completo. Portanto, conjugar o trabalho, a vida em família e um horário
de treinamento religioso pode se tornar um desafio monumental, porém a
grande maioria acredita estar acumulando importantes benefícios em prol
da saúde na participação desses tipos de modalidades esportivas.
Muitas vezes, a crença popular é que toda atividade física é boa para
a saúde e para o bem-estar geral do indivíduo, e que na verdade, a
carga envolvida, a qual uma pessoa se sujeita não tem importância, já
que a pratica do exercício só pode trazer benefícios. Porém, essa é uma
maneira muito simplista de encarar tal assunto. E talvez,
seja hora de examinarmos a prática dos esportes e das atividades
fisicas, que trazem tantas alegrias e gratificações às nossas vidas, de
uma forma mais aprofundada e metódica. Sem contar que os benefícios
psicológicos e fisiológicos de uma programação sensata e regular diária
são primordiais. Além disso, vários estudos demonstram que a
movimentação física moderada pode conferir diversos benefícios à saúde,
como o fortalecimento do sistema imunológico, das funcoes do cerebro e
até mesmo a redução dos riscos de doenças cardiovasculares e certos
tipos de cânceres.
Mas e se a participação nestes eventos altamente prolongados de
ultra-resistência não corresponde com os benefícios em prol da saúde que
muitos almejam? Alem disso, e se o treinamento rigoroso (muitas vezes
até mesmo prescrito por um indivíduo sem formação específica da
disciplina de fisiologia do exercício e de educação física) estiver
lentamente comprometendo a função imunológica do organismo de forma
acentuada?
É bem possível que em algum momento a atividade física praticada de
forma extrema, passe a se tornar um risco para a saúde. Esses atletas
profissonais e amadores, muitas vezes desconhecem o mal causado aos seus
organismos. E com muita frequencia, milhares de pessoas em todo o
mundo, com o apoio de um grupo de “treinadores” e outros indivíduos que
se auto-proclamam “especialistas”, estão se sujeitando às metodologias
de treinamento com cargas esdrúxulas, que podem sistematicamente estar
minando as suas defesas imunitárias.
O nosso sistema imunológico é constantemente desafiado por uma série
de micróbios patogênicos. Diversos fatores como, por exemplo, a nossa
predisposição genética, o meio ambiente, os níveis de estresse em nossas
vidas, a nossa alimentação, a falta de sono, o envelhecimento e as
cargas de atividades físicas, as quais nos submetemos, influenciam a
robustez e a integridade desse sistema. Quadros clínicos patológicos e
hábitos nocivos como a dependência química, tal como o uso de drogas, do
tabaco e das bebidas, também contribuem com a supressão da resistência
imunológica.
Também é muito comum atletas sucumbirem às infecções de trato
respiratório superior como resfriados, dores de garganta, e sinusites
nos dias e semanas após uma prova importante. Tais ocorrências estão
mais do que relatadas dentro da literatura científica. Na verdade,
estudos demonstram que o risco de sofrer infecções de trato respiratório
superior aumenta de 2 a 6 vezes nas semanas após a participação em uma
maratona de 42 km, ou em ultra-maratonas de 90. Estados gripais também
aumentam durante as fases de treinamentos excessivos.
Em entrevista pelo telefone perguntei ao Dr. Michael Gleeson, um
renomado investigador da Loughborough University e especialista no
assunto, em que momento, os exercícios prolongados passam a tornar-se
nocivos. Ele afirmou que diversos componentes do sistema imunológico
começam a ser suprimidos após uma corrida intensa e contínua com duração
de mais de 90 minutos. No entanto, vale a pena lembrar, que o curso de
uma maratona para muitos acarreta mais de cinco horas de exercício
contínuo e um Ironman pode chegar a ter uma duração de até 17 horas.
A supressão imunológica que ocorre após o exercício prolongado está
relacionada à elevação dos níveis dos hormônios de estresse, adrenalina e
cortisol provenientes das atividades físicas. Tais níveis elevados
desses hormônios deprimem importantes células sanguíneas, neste caso os
glóbulos brancos (neutrófilos e linfócitos), que desempenham um papel
vital na integridade do sistema imunológico. Os neutrófilos no corpo
humano são análogos e comparáveis ao icônico Pac-Man (protagonista do
famoso videogame dos anos 80, que obstinadamente devorava os pequenos
detritos, e que poderiam equivaler-se aos microrganismos nocivos em
nosso organismo). Desta maneira, os níveis mais baixos dessas células
nos tornam suscetíveis às infecções. E as atividades físicas praticadas
de forma demasiada, ou prolongadas, também afetam negativamente outros
mecanismos mais complexos da defesa imunitária.
O comprometimento da função imunológica que ocorre após uma corrida
de ultra-resistência é, na grande maioria das pessoas, reversível.
Porém, o problema enfrentado por esses entusiastas obstinados não é
apenas a agressão fisiológica, que eles encaram durante uma competição
como uma maratona ou Ironman, mas também o enfraquecimento
constante de seus sistemas imunológicos, que ocorre no dia a dia de suas
vidas em consequência das metodologias excessivas de treinamentos que
antecedem o dia da competição. Desta forma, agridem as suas integridades
físicas de forma constante, pois as rotinas de treinamento e as provas
múltiplas são incessantes.
O que ocorre é curioso. Imaginemos que o sistema imunológico esteja
tomando uma série de socos várias vezes por semana durante os dias de
treinamento e, finalmente, tome um nocaute no dia da prova ou da
competição. Seria interessante averiguar qual é o resultado do sistema
imunológico a longo prazo de uma pessoa, que esteja constantemente
participando de diversas maratonas ao ano e, além disso, se submetendo
no dia a dia a programas de treinamentos excessivos e sem base nos
conhecimentos da área de fisiologia do exercício.
Vale a pena fazer uma observação sobre a carga de exercício que é
considerada apropriada para estimular adaptações imunológicas benéficas.
Quando perguntei ao Dr. Gleeson sobre a quantidade de exercício ideal
para se alcançar este objetivo, ele afirmou que “a atividade física
moderada de 30 a 45 minutos composta por uma caminhada rápida, de 5 dias
por semana, é recomendável para promover a saúde, o bem-estar geral e
as adaptações fisiológicas que de fato fortalecem o sistema
imunológico.” Com base em sua afirmação, fica claro que a medida ideal
de atividade física para o bem viver está bem longe de ser a de um
treinamento para o dia da prova, de uma maratona ou de um Ironman.
Por outro lado, não queremos e não devemos dissuadir as pessoas de
usufruirem dos mais que reconhecidos benefícios das atividades físicas
diárias, tanto que enfatizamos os benefícios psicológicos e fisiológicos
das programações sensatas e regulares. No entanto, correr durante
quatro ou mais horas, como muitos fazem numa maratona, ou nadar, pedalar
e correr durante dez horas ou mais, como fazem participantes de um Ironman, fica bem longe de ser consideradas cargas de exercícios que almejam fortalecer o sistema imunológico de quem quer que seja.
Em caso de inssistência na participação dessas competições de ultra
resistência, recomendamos que os partipantes dentro dessas modalidades
procurem sempre a assistência de um fisiologista ou outro profissional
da área, para uma opinião individualizada de forma a minimizarem riscos
desnecessários à saúde e que decorram de tais modalidades.
Eventualmente, outra saída e que estas pessoas busquem formas mais
sensatas de praticar atividades físicas.
http://blogs.estadao.com.br/ricardo-guerra/quando-o-exercicio-vira-risco-para-a-saude/
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